Quero, antes de tudo, começar este meu comentário com uma noticia que me deixou particularmente feliz: O resultado em Amarante não deu qualquer margem para dúvidas.
Neste caso e com o devido respeito para o vencedor nem me interessa quem ganhou. Interessa-me sim saber que os eleitores deram uma prova de serenidade e lucidez derrotando de uma assentada a charlatanice e os reality trash que a promovem. Bem hajam Amarantinos. Com esta derrota abomina-se as vozes do vale-tudo e calam-se as vozes daqueles que embora contestando provavelmente desejariam que A Peça ganhasse para poderem, com profecias de desgraça, fundamentar e deambular sobre as vitórias de outros candidatos - que não os seus - com diatribes encarquilhadas dignas apenas do seu mesquinho e pernicioso desejo. Para mim a Peça de Amarante era caso único. Apesar de outros candidatos se apresentarem em margens suspeitas da justiça, não há razão de facto para duvidar da consciência de quem em Oeiras, Gondomar, Leiria. Foram presidentes que fizeram obra e os eleitores (a sua grande maioria) não o esqueceu. A Justiça se encarregará de os julgar. Deixei de propósito Felgueiras de parte porque aqui, ao contrário dos outros casos, existe um motivo que faz toda a diferença: houve incumprimento da Lei. A candidata era uma foragida da Justiça. O facto de ter sido ou não boa presidente não a iliba á priori dos caminhos da Lei. Custa ver cidadãos a eleger uma candidata fora-de-lei. Nem o falecido Zé do Telhado teve esse privilégio.
Agora Mondim de Basto - a terra que nos interessa- e onde, felizmente não temos candidatos a contas com a justiça.
Como é de já sabido Fernando Pinto alcança vitória. Na minha opinião alcança tripla vitória:
1- É reeleito presidente do município.
2- É reeleito com maioria (o que faz toda a diferença)
3- Com esta vitória, derrota a concelhia eleita do PSD local. Restava-lhe apenas um desaire eleitoral para que de novo pudesse renascer. O cenário foi-lhe madrasto. Fernando Pinto e Marques Mendes, este último não só por Mondim como por todo o território nacional, saem ambos vencedores.
Se é uma verdade que Fernando Pinto e a sua equipa não ganharam para o susto - a diferença escassa de votos confirma-o, também é verdade que não precisou dos votos que muitos psd?s certamente lhe negaram. Tomou uma decisão e mostrou coragem suficiente para a cumprir. Resta apenas saber se a comissão politica se demite ou se será Fernando Pinto a ter que demiti-los. Para um homem com a imagem naturalmente desgastada em tantos anos de poder, há que lhe reconhecer este mérito inato. Poucos teriam a audácia. Poucos o conseguiriam.
Justificar os votos do adversário á custa de promessas pessoais vale tanto para uns como para os outros. A única coisa que os separa são as ferramentas que uns detêm e que outros lutam para as ter. Mas mais uma vez a liberdade de cada um permite-lhe poder escolher não só o candidato e o seu programa mas também outras tantas intenções que cada eleitor determine como importantes para a sua decisão final. Por isso não é de estranhar ver Poder e Oposição argumentarem com os eleitores - em particular - focando precisamente, esta tipo de matérias que, das mais diversas formas, percorrem transversalmente toda a sociedade política seja ela parlamentar seja ela autárquica.
O fundamental é ter noção que os eleitores quando estão na mesa de voto e de esferográfica na mão marcam com a cruzinha o quadrado que nesse momento crucial a vontade impele. Há os que saem perfeitamente tranquilos com a sua consciência, e haverá os que pelo contrário, saem com um peso na consciência. Em qualquer deles é a consciência a única testemunha e suprema juiza do acto. Mas mesmo aqueles que ficam com pesos ou remorsos em relação ao seu voto podem expiar as suas culpas em actos eleitorais futuros. No caso de Fernando Pinto já muitos tiveram essa oportunidade. Sete vezes para ser mais exacto. O que me faz aumentar a convicção de que ninguém vota enganado. O acto do voto é um acto de fé. A maneira como lidamos com a essa fé é do nosso foro intimo Ser democrata é compreender e respeitar isso mesmo.
O Partido Socialista, embora aumentando a sua votação sai, não direi propriamente com uma dupla derrota mas com uma derrota e um sabor amargo. Não ganha o executivo. Quando tudo lhes parecia indicar estar ali mesmo á mão de semear. Nas freguesias consegue os seus resultados mais expressivos e ganhadores em listas lideradas por candidatos com passado alheio à família socialista. Durante a campanha tornou-se indisfarçável, senão o distanciamento, mas um - não te encostes assim muito para ao pé de mim - em relação a estes candidatos. É sobejamente conhecido como as hostes socialistas o convivem com os independentes e como são geralmente tratados. É assim nos governos e é assim nas autarquias. No entanto foram estes, no concelho de Mondim, os verdadeiros protagonistas da mudança. A equipa genuinamente socialista, teve na professora Laura a única protagonista. No seu todo, a equipa do Engº. Humberto para o executivo saldou-se num fracasso. Os resultados nas últimas eleições exigiam de quem neles votou uma continuada dinâmica de vitória. Tiveram quatro anos a jogar (irregularmente) para o campeonato. Mas aqui tratava-se de uma verdadeira final da taça. Ao não entenderem isso subestimaram o adversário e defraudaram as claques.
Assim grande maioria dos votos no partido socialista foram votos, não de convicção num projecto de mudança mas de apenas mudança. Com sabor genuinamente anti-Fernando Pinto. Voltando ao futobolês: Não houve amor á camisola nem fio de jogo (excepção feita á Dona Teresa Rabiço) a única a mostrar discernimento no discurso e, fundamentalmente, um calor genuíno na sua entrega. Teve esse mérito pessoal. Como prémio de agradecimento não falou no comício de Mondim. Estratégia? Esquecimento? Não sei e a verdade é que pessoalmente não me interessa. Mas que é digno de nota é.
A própria Vila que onde, para alguns velhos do Restelo, reside a nata dos eslarecidos e onde por tradição se vota mais á esquerda, até aqui os eleitores lhes negaram uma vitória clara e inequivoca. Facto ainda mais interessante quando verificamos que são as mesas de votos dos mais jovens aquelas em que o apoio foi nitidamente menor.
Eu sempre achei - disse-o nesta Casa várias vezes - muito estranho o facto de não haver em Mondim juventude socialista organizada. Compreendo agora facilmente o motivo.
Ao Partido Socialista resta-lhe, a partir deste momento, continuar refém de Humberto Cerqueira, o vencedor vencido a não ser por um acaso ver despontar no seu seio uma nova equipa capaz de emendar os erros passados, gerar consensos fortes nas freguesias, coisa que, pasme-se, em quatro anos a equipa do Engº Humberto não teve capacidade para fazer e com esse capital afirmar-se internamente como alternativa vencedora.
O CDS foi, também ele, castigado. Facto que nem aos próprios deve surpreender.
Um partido que na recta final mostra mais preocupação em convencer os presumíveis indecisos a votarem senão no CDS em qualquer outra força que não no PSD. Politicamente foi uma história do pior. Uma recta final com este despeito e esta falta de fé tem, irremediavelmente, aquilo que merece. Neste cenário, depositar alguma esperança no futuro do CDS passa pelo Engº Selas de Atei que consegue entre 794 votantes arrecadar 282 votos contra os 234 votos de Mondim num universo de 1919 votantes. Era obra em qualquer partido mas muito mais no minúsculo CDS-PP.
O PCP-PEV tem que analisar friamente os resultados em Atei, Campanhó, Ermelo, Paradança e Vilar de Ferreiros e retirar daí as suas ilações. Em Mondim parece definitivamente ultrapassada aquela ideia que alguns candidatos nem neles próprios votam.
A minha modesta conclusão supra partidária:
Aqueles que, teimosamente, continuam convencidos que falam em nome do povo tirem daqui alguns ensinamentos. Nem se trata apenas do povo não gostar que falem em nome dele. Para mim vai mais longe que isso. O povo por quem eles dizem falar na realidade não existe. É um conceito abstracto que cada vez mais está longe da realidade. O que existe sim são indivíduos. Cada um na sua individualidade. Em liberdade.
Os candidatos não são mais que um grupo organizado de indivíduos prontos a apresentarem propostas a situações concretas aos restantes indivíduos que as aceitam ou não. Quem apenas vê nestes actos públicos, que são as eleições, povo de um lado e candidatos do outro não só esta a distorcer a realidade como à conta dessa distorção se sujeita a engolir os sapos que nessas paisagens pré-históricas proliferam e abundam.
A conclusão das Urnas
Os eleitores em Mondim votaram cumprindo assim mais um acto de cidadania democrática. No apuramento dos votos foi encontrado o vencedor.
Ponto final. Parágrafo.
O Remate Ecológico
Eu com a minha individualidade exclusiva vos transmito a todos os que porque aqui me apraz ver andar, que vou continuar a escrever com a mesma paixão, com a mesma liberdade, com a mesma estupidez, com a mesma tranquilidade emotiva que julgo possuir. Em suma com a originalidade que a todos nos faz diferir dos restantes.
Rara é a noite em que não venho a esta Casa. Umas vezes á procura de conversa, noutras apreciando apenas as conversas dos outros. Tenho vindo a descobrir as virtudes que as conversas virtuais têm em relação ás demais. São mais sinceras e incisivas. Não são precisos gestos nem expressões faciais para as reforçar. Diz-se o que nos vai na alma sem maquilhagem sem cenários. Talvez por isso, e contrariamente ao que possa parecer á partida o anonimato, pode revelar virtudes. Como se trata de personagens que não são reflexos mas apenas extensões de nós próprios permite-nos ser o político que nunca seriamos na vida real, o comentador que nunca seriamos na vida real e por aí fora. Os blogs têm este encanto. Por isso mesmo vou aqui continuar. Quem quiser que me ature. Quem não quiser salte para o comentário seguinte. Mas por favor não pise a relva nem deite lixo para o chão.
Tranquilamente Dias Verdes.