domingo, novembro 13, 2005

Municípios não estimulam participação dos cidadãos

Os cidadãos estão afastados do processo de decisão política municipal, porque os autarcas, apesar de atribuírem grande importância à sua participação, não a estimulam. É esta a principal conclusão de uma tese de mestrado em Administração Pública defendida este ano na Universidade do Minho.

O trabalho de investigação "Governância municipal - estudo sobre a participação dos cidadãos como paradigma da governação nas câmaras municipais portuguesas", da autoria de Arnaldo Ribeiro, assenta num inquérito dirigido aos 308 municípios, que obteve uma taxa de resposta de 53%, entre presidentes, vereadores e funcionários.

A esmagadora maioria dos inquiridos (97,5%) declara que a participação dos cidadãos é importante. Porém, as formas de a materializar "são muito ténues". Ou seja o reduzido entusiasmo dos autarcas pelo estímulo à participação é flagrantemente contraditório com as suas profissões de fé nas virtudes do envolvimento dos cidadãos na gestão autárquica.

Só um em cada três inquiridos afirma que os cidadãos são consultados, quando estão em causa projectos estratégicos. É generalizada a ausência de estruturas destinadas a acolher contributos exteriores, como provedorias do munícipe. O boletim municipal, que poderia constituir um instrumento de participação, funciona como "vendedor de decisões às massas", privilegiando a abordagem à obra feita, sem questionamento. Em alguns casos, nem a lei que determina a afixação de actas é cumprida.

Estes sintomas de escassa sensibilidade à participação dos cidadãos - frequentemente transformada em resistência - fundamentam a constatação de Arnaldo Ribeiro, em declarações ao JN "Os políticos locais vivem numa redoma, que os afasta cada vez mais da realidade".


Contacto individual

O fenómeno detectado na tese também encontra explicação na atitude dos munícipes. Num contexto de personalização do poder, raramente se manifestam em reuniões do executivo. É directamente ao presidente da Câmara que se dirigem, quase sempre numa perspectiva individual, para expor problemas pessoais.

Trata-se de uma "relação desproporcional do indivíduo face a uma organização, com papéis e representatividade diferentes", que condiciona a sua participação. O "afunilamento" da relação, evidenciado pelo facto de o presidente de Câmara ser o contacto preferencial - quando não o único - é "uma ameaça séria à democracia local", porque o cidadão "fica sujeito aos 'favores e humores' dos que governam, mais do que às leis".

A participação colectiva não representa mais de um quarto das intervenções dos cidadãos, embora seja mais expressiva em municípios com maior número de eleitores. Partidos e associações desportivas são as organizações mais activas. A tendência pode redundar em desigualdade de participação - quem não é do partido, tem menos possibilidade de influenciar as políticas ou sequer ser consultado sobre elas.


Poucas decisões são alteradas

A resposta a duas questões incluídas no inquérito dá bem a medida do afastamento dos cidadãos do processo decisório. Mais de metade dos respondentes (56,7%) admite que é baixo o volume de decisões alterado por efeito da participação dos cidadãos e só 40% o considera médio. Quando se trata de apurar quem é consultado pelo presidente da Câmara na fase prévia à decisão, surgem à cabeça os vereadores (76,9%) e, em plano muito inferior, os cidadãos, apenas com 12,4%, funcionários (5%) e, finalmente, as organizações (4,1%).

JN


Aqui deixo este artigo, que mais não é, que a constatação de um problema da democracia/sociedade actual. Cada vez mais, os cidadãos se afastam (ou são afastados) daqueles que supostamente são escolhidos para os representar, defender, gerir o nosso dinheiro......

Mondim poderia ser (é) muito bem, o espelho deste estudo:
Nem cidadãos, nem organizações são estimulados a participar. Depois de votar, o cidadão tem que gramar com 4 anos de "ditadura". Nunca mais é chamado a dar a sua opinião. As organizações e associações, são quando muito, estimuladas a desaparecer.
Gosto pessoalmente da piada quando 97,5% responde que a participação dos cidadãos é importante. Parece que os imagino a responder.
Boletim Municipal em Mondim? Que é isso? Diz o autor que
"poderia constituir um instrumento de participação," mas que " funciona como "vendedor de decisões às massas"". Em Mondim nem isso. Que teria a nossa autarquia para nos dizer se tivesse um boletim.... anual? Já não pedia mais. Só este pequeno parágrafo daria uma boa conversa. Que sabemos nós das decisões da nossa autarquia? Para além do syte não oficial, mondimmunicipal, prestador de um excelente serviço, que faz a autarquia para nos manter informados?
Continuando a ler o artigo, revejo todas as conclusões no nosso executivo. A redoma de vidro, o ficar sujeito a "humores e favores" resultante do facto de se recorrer directamente ao presidente, ausência de alternativas aos partidos para os que querem participar.

A manter-se esta conduta, a ruptura do processo democrático representativo torna-se inevitável.

5 comentários:

País Basto disse...

Caro Dias Verdes, fico com a impressão que legitimas que o poder faz tudo para o manter e que portanto é natural que se feche á sociedade depois de conquistado o lugar e que ficamos dependentes da oposição para desenvolver a democracia.
Se não for essa a tua posição apresento desde já as minhas desculpas, mas foi essa a ideia que fiquei ao ler o teu post.
Não pensas que o poder tem responsabilidades acrescidas também na comunicação pelo facto de exercer esse poder?
Não votarão as pessoas com a idéia que essa comunicação se faça? Até me podes dizer que não.. mas não seria o mais correcto?

AtoMo disse...

Dias Verdes,

Contesto as duas "soluções" apresentadas:
Blog Casa do Eiró
Não é claramente um elemento participativo. Sendo eu um elemento activo, e defensor dos objectivos deste blog, sei que estamos, e estaremos, sempre longe de qualquer decisão. Somos, contráriameente ao que dizes, a confirmação da regra. Não somos motivados pelo poder político, somos motivados por essa falta de iniciativa que o autor do estudo alega.
Oposição
Penso que o Arnaldo coloca a oposição no mesmo "saco" dos autarcas eleitos quando fala em políticos. A leitura que faço do texto, é que também ele aponta responsabilidades na oposição. Acaba mesmo por dizer, " quem não é do partido, tem menos possibilidade de influenciar as políticas ou sequer ser consultado sobre elas". Assim sendo, penso não haver motivos para a tua contestação.

Posto isto, resta-me dizer, que concordo claramente contigo quanto à responsabilidade da oposição, mas o teu texto parece sempre tender para a defesa do executivo. Quero acreditar que te interpreto mal. A oposição tem responsabilidade, mas o executivo muito mais.

AtoMo disse...

Vamos ver se nos entendemos, o estudo de Arnaldo Ribeiro revela que os Municipios não estimulam a participação dos cidadãos, muito pelo contrário, colocam-se numa redoma, sem contacto com os cidadãos. É a constatação de um facto. Tu contrapões da seguinte forma:
"No entanto o Arnaldo esqueceu-se de um facto importante e que faz toda a diferença".
E falas na oposição e no blogue. Será que este blogue foi estimulado (positivamente) pela executivo? Não!!!
Se ele fala no executivo porque contrapões com a oposição? O homem está a constatar algo sobre o executivo!!!
A posição adoptada pela oposição altera os resultados do estudo? Não!

AtoMo disse...

Esquece!!!!
Não apoiei a atitude da oposição, não critiquei o executivo!!!!
Limito-me a criticar a teu comentário ao estudo. Será dificil perceber?
O homem constatou um facto, o Sr. bem e critica-o porque ele se esqueceu de factos importantes e fala nos blogues e na oposição. Mas o estudo é sobre os Municipios, logo oposição (partidos) incluída.
E volto a repetir não acho que o blog se enquadre porque não surge devido a uma atitude entusiasta da Câmara.
É assim tão complicado?

AtoMo disse...

Eram 8.02 disse:
"Não somos motivados pelo poder político, somos motivados por essa falta de iniciativa que o autor do estudo alega." ou seja, concordo!